O director do serviço de Pediatra
do Centro Hospitalar Leiria-Pombal alertou hoje para a falta de informação sobre
os problemas do sono, o que leva, por vezes, a diagnósticos incorrectos de
hiperactividade e défice de atenção em crianças e adolescentes.
Apesar de não existirem "números
exatos" em Portugal, Bilhota Xavier revelou à agência Lusa que, "de acordo com
dados de outros países, mais de 25 por cento das crianças tiveram em alguma fase
da sua vida problemas ou patologia do sono".
"Existem vários problemas do sono,
como crianças que têm grande agitação durante o sono", o que perturba a "boa
higiene do sono". Bilhota Xavier aponta ainda as patologias que afectam as
crianças como o ressonar e a apneia obstrutiva.
Ao contrário dos adultos, quando
dormem mal, "as crianças ficam muito mais agitadas e mexidas" e "têm uma
capacidade de atenção muito mais diminuída".
Estes comportamentos levam, por
vezes, os médicos a diagnosticar défice de atenção e hiperactividade de forma
errada em algumas crianças.
"Os próprios profissionais de
saúde nem sempre estão devidamente informados e atentos a estas questões e
acabam por prescrever injustificadamente estimulantes do sistema nervoso
central", alertou.
"Estas são as principais razões
para que haja em Portugal uma percentagem excessiva de crianças medicadas com
sedativos, estimulantes do sistema nervoso central e medicamentos para as
cólicas, quando estas crianças precisam é de ver tratado o problema do sono",
acrescentou o pediatra.
Para Bilhota Xavier, os problemas
do sono começam na fase do nascimento, "quando surgem as ditas cólicas, que não
são mais do que a adaptação do seu ciclo vigília/sono".
Este período provoca
"desestabilização" nas famílias e leva os pais a procurarem soluções para o
desconforto da criança.
"Sem saber como se hão-de
orientar, põem a criança a dormir com eles, adormecem-na ao colo ou
acompanham-na quando muda de quarto. Cria-se logo aqui uma perturbação nos
mecanismos que devem ser os indutores do sono".
O pediatra desaconselha ainda a
luz acesa durante a noite, nem que seja apenas de presença, porque "a luz é um
elemento muito importante para que o relógio biológico funcione" e que "o ciclo
vigília/sono se vá estabelecendo".
A insónia surge durante a
adolescência, devido a um "atraso de fase". Isto é, "em vez do seu relógio
biológico dar sonolência por volta das 22 ou 23 horas, estes jovens têm um
atraso e sono aparece mais tarde", explicou.
Esta situação, referiu Bilhota
Xavier, leva a um "consumo indevido de sedativos e indutores do sono", quando
"se pode corrigir com outras estratégias".
O pediatra considerou que o sono é
um problema "muito importante" e que vai causar "dificuldades de
aprendizagem".
"Está provado que 50 a 60 por
cento das crianças com problemas do sono vão ter excesso de peso ou vão ser
adolescentes obesos. A associação tem a ver com a produção de hormonas e com o
nosso metabolismo celular", informou Bilhota Xavier.
As perturbações e patologias do
sono são o tema das XX Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, que
decorrem dias 29 e 30 no Hospital de Santo André, unidade do Centro Hospitalar
Leiria-Pombal, sob o tema "Consensos sobre diagnóstico e tratamento das
perturbações e patologia do sono".
Por: Lusa/SOL